O MÉTODO
DIALÉTICO APLICADO AO ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA
Maêlda de Lacerda Barros
Nota
Este artigo corresponde a um dos capítulos
da Monografia intitulada " O MÉTODO DIALÉTICO APLICADO AO ENSINO DE
GEOGRAFIA FÍSICA" , apresentada pela autora ao curso de especialização em
ensino de Geografia, da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.
A autora
agradece às críticas e /ou sugestões enviadas.
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Propor uma perspectiva dialética para a
compreensão do real, para a construção do conhecimento e para o entendimento do
homem com relação ao complexo natural que o cerca, significa adotar uma
metodologia cujo objetivo principal no ensino da Geografia é estabelecer um
princípio dinâmico onde os fatos geográficos naturais estão em processos, têm
uma história caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas, ou seja,
evoluem dialeticamente segundo a tríade tese, antítese e síntese.
O ensino
de Geografia Física tem como objetivo dar aos alunos conhecimentos sobre a
Geografia, sobre os componentes fundamentais do complexo natural e as relações
mútuas entre os distintos componentes. Isso permite ricas possibilidades de
formação nos alunos da concepção dialética do mundo, já que eles se
familiarizam com o meio circundante em que os fenômenos da realidade estão
relacionados entre si e se encontram em constante movimento e transformação. Como
estas relações não se manifestam claramente na própria natureza faz-se
necessário estabelecer seus contrários, ou seja, enfatizar que a ausência de
qualquer dos componentes do complexo natural dado faz variar seu caráter. Um
exemplo: O professor, em sala de aula, apresenta uma lâmina do complexo natural
de um vale fluvial. O professor pergunta aos alunos: que variações na natureza
desta parcela se originariam se o clima fosse mais seco? Procedendo dessa forma
o professor permite ao aluno estabelecer a relação indestrutível que existe
entre os vários componentes do complexo natural.
Sobre os
princípios metodológicos dialéticos nas investigações do ensino da Geografia,
PANCHESHNIKOVA (1983, p. 5) acentua:
“O
processo de ensino em seu conjunto, se analisa do ponto de vista de sua
vinculação geral, do passo das transformações quantitativas em qualitativas, do
descobrimento das contradições internas. Para estudar um fenômeno deve-se
enfocá-lo de forma histórica, analisando seu movimento e seu desenvolvimento.
A
importância da abordagem dialética no ensino da Geografia Física caracteriza-se pelo fato de estabelecer o
conhecimento dos componentes da natureza em seu conjunto. Essa visão
totalitária da manifestação da natureza permitirá um amplo conhecimento sobre a
utilização pelo homem de um determinado complexo natural tendo em vista que todos os elementos
naturais serão levados em consideração seja no estabelecimento das causas
naturais que provocariam a sua destruição, seja para realizar uma atividade
econômica correta.
Este
modo de conceber o conhecimento científico a partir da relação dialética deve
ser visto pelo professor como um meio de apoio, um modo de criar condições de
aprendizagem no processo de investigação científica e filosófica. PAVIANI
(1983, p. 82) aborda essa questão da seguinte forma:o modo de ensinar tem
íntima relação como o modo de produzir conhecimentos científicos e de
refletir filosoficamente. Por isso, precisamos nos voltar à questão dos
conteúdos ensinados nas salas de aula, mas não especificamente aos conteúdos
existentes entre si. Precisamos tentar resolver, e este é o nosso problema,
como é possível ensinar alguém a conhecer, a pensar e a produzir Ciência e
Filosofia.
Desta
forma, ao abordar as idéias filosóficas no conteúdo de Geografia, o professor
está sendo contemplado por orientações precisas que lhe permitem organizar o
processo de ensino de tal forma que possibilite ao aluno chegar a conclusões
dialéticas, ou seja, entender que a variedade da natureza da superfície
terrestre não é casual, mas está submetida a leis.
Os
alunos compreendem a importância de seus conhecimentos sobre a característica
qualitativa e quantitativa dos objetos e fenômenos geográficos, quando estudam
a natureza local. Portanto, torna-se de extrema importância que no plano
metodológico, o docente direcione o trabalho diretamente sobre o terreno com a
finalidade de formar nos alunos a capacidade para estabelecer as
características físico-geográfico dos objetos e fenômenos da natureza e de
habilidades para chegar a conclusões sobre as causas das particularidades
estudadas.
Ressaltamos
que este trabalho direciona-se particularmente, pela complexidade de sua
natureza, aos professores do 3º grau do Ensino Superior.
Procederemos
com algumas sugestões de ensino trabalhados sob a ótica dialética com intuito
de oferecer aos professores de Geografia Física um rico material didático.
ATIVIDADE
1
Temática
; Quadro Térmico
Objetivos:
a)
Compreender as mudanças de temperatura verificadas ao longo do ano na região
temperada;
b)
Estabelecer relações dialéticas entre a marcha aparente do Sol ao redor da
Terra e as estações do ano.
Noções
Básicas
O
andamento das estações do ano com seus reflexos nítidos na paisagem, como é de
conhecimento geral, só se verifica
plenamente nas chamadas zonas de latitudes médias ou regiões
temperaturas. No mundo Tropical, como o ângulo de incidência dos raios solares
varia muito pouco, as estações do ano não se
confirmam. As estações do ano são, portanto, uma decorrência da marcha
aparente do sol anual ao redor da Terra e da inclinação de aproximadamente
23º do eixo do planeta. O assunto
estações do ano reveste-se de uma particular importância para conteúdos
abordados em outras disciplinas que compõem os currículos dos cursos de
geografia.
Examinados
sob a ótica dialética, diríamos que a utilização da expressão fatores estáticos
merece uma revisão, pois, nada na natureza é estáticos, haja visto que o
movimento é a essência da matéria. Assim, cabe ao professor de geografia física
salientar que, considerar a altitude como um fator estático, esconde a lei da
transformação da matéria observada nos fenômenos físicos. Contudo, na escala
cronológica antrópica, as alterações altimétricas que podem implicar em
modificações dos elementos climáticos, são praticamente imperceptíveis.
A
análise climática não pode sob nenhuma hipótese dispensar a relação dialética
entre o Sol e a Terra. O motor das condições climáticas ambientais reside na
quantidade de insolação que chega à superfície terrestre. NIMER (1979, p. 268),
assegura que o conhecimento das influências dos fatores geográficos que atuam sobre o clima de uma determinada
região por mais completos que sejam, não é suficiente para a compreensão de seu
clima. Este não pode ser compreendido e analisado sem o concurso do mecanismo
atmosférico, sem fatos genéticos, objetos de pesquisa da meteorologia cinética.
Até mesmo os demais fatores tais como o relevo, a latitude, a continentalidade
ou maritimidade nesta ineluindo as correntes marítimas, etc., agem sobre o
clima de determinada região em interação com os sistemas regionais de
circulação atmosférica.
Um dos
assuntos mas destacados no processo de ensino aprendizagem de geografia física
diz respeito às condições climáticas ambientais. Tal importância deriva do fato
de que inúmeros outros componentes da paisagem geográfica são direta ou
indiretamente influenciados pelo clima. Daí a ênfase que deve ser atribuída ao
referido tema.
Consideramos
importante nesta oportunidade fazer uma rápida revisão do conceito de clima,
bem como da evolução do mesmo.
Uma das
primeiras definições de clima foi apresentada por Julius Hann no século XIX. Tal
autor, considera clima como o conjunto dos fenômenos meteorológicos que
caracteriza o estado médio da atmosfera num dado ponto da superfície terrestre.
DE
MARTONNE (1953), analisando tal definição, ressaltou três pontos, a saber:
1. O
clima seria um estado médio num ponto da superfície terrestre;
2.
Trata-se do estado médio da atmosfera;
3. O
clima é um conjunto de fenômenos intimamente interconexos.
MAX
SORRE (1955, p. 14), diferentemente de Hann, definiu clima como: ;O amente
atmosférico constituído pela série de
estados da atmosfera que recebe um lugar e sua sucessão habitual, ou em outras
palavras, o clima seria o resultado do andamento habitual do tempo.
Os
climas possuem elementos e fatores que se mostram interligados. Os elementos
correspondem às características físicas do ar e aos fenômenos ditos
meteorológicos. Esses elementos são influenciados ou modificados pelos fatores
que são de natureza estática e dinâmica. É assim que a climatologia clássica os
considera.
Sugestão
ao Ensino
O
professor de Geografia Física pode utilizar diversas estratégias para
inicialmente tratar do tema. Mas, sempre que possível, deverá levar o aluno a
compreender o assunto aplicando as leis da dialética. Assim, sugerimos que:
1- Seja
apresentado a figura 6 onde se observa a marcha
anual de altura zenital do sol. Neste particular seria interessante o
professor transcrever para os alunos o texto de NIMER a seguir:
quando o
sol caminha em direção ao zênite, a primavera e o verão sucedem ao inverno;
quando se afasta, o outono e o inverno sucedem ao verão. Este ritmo das
estações, que tão bem caracteriza a vida nas latitudes médias, torna-se cada
vez menos nítido em se aproximando do Equador. Enquanto na zona temperada o Sol
nunca alcança o zênite, nas latitudes baixas (zona intertropical) o sol atinge
o zênite não somente uma mas, duas vezes
por ano.
2- O
professor poderá dizer aos seus alunos que a variação do ângulo de incidência
dos raios solares ( variação de quantidade) nas regiões de latitudes médias,
implica numa mudança qualitativa do quadro térmico, ou seja, durante a quadra
invernal os ângulos de incidência são baixos. E mais, à proporção que o sol se
encaminha para o solstício de verão, o ângulo de incidência dos raios solares
aumenta (mudanças quantitativas) implicando em mudanças qualitativa do quadro
térmico.
3-
Poderá ser ressaltado ainda que, as mudanças quantitativas de energia solar que
atinge a superfície terrestre ao longo do ano implicarão na movimentação de
diversos sistemas atmosféricas que responderão por modificações térmicas,
precipitações, ventos, e assim por diante.Temos então no caso exposto,
condições de mostrar as seguintes leis da dialética: tudo se relaciona, tudo se
transforma, mudanças quantitativas implicam em mudanças qualitativas.